Por Fátima Souza - Da Redação - 30/05/2011 Fotos: Fátima Souza |
A educação no Brasil está longe de ser uma prioridade. Um exemplo é o piso salarial dos professores, que apesar de ser fixado por Lei e ter o respaldo do Supremo Tribunal Federal, são raros os municípios que o cumprem. Mas apesar destas dificuldades, as áreas de ensino técnico e graduação em nível superior vêm se destacando, graças a difusão das novas tecnologias, sendo a principal delas, a internet. O termo certo poderia ser uma verdadeira revolução educacional. Definida muito bem nas palavras da pedagoga Rita Saldanha, que comemora a novidade: “A melhor coisa que poderiam ter inventado foi o ensino a distância, e pensar que antes eu arrisquei tanto a minha vida, em estradas, viajando de madrugada para conseguir chegar na hora das aulas”, relembra. A pedagoga é uma das que comemoram os, tão difundidos nos últimos anos, EAD (Ensino a Distância), possibilitando que alunos rompam as longas distâncias territoriais brasileiras através do ensino a distância e beneficiando milhares de estudantes que moram no “interiorzão” do país, distantes dos grandes centros, onde ficam os conglomerados educacionais. O EAD começou com uma certa desconfiança pelos mais conservadores, mas logo caiu no gosto dos estudantes que descobriram que poderiam realizar o sonho de uma graduação ou até em outros níveis, tais como pós-graduação, especialização ou mestrado, sem precisar emigrar da sua cidade natal. Uma destas situações, acontece na cidade potiguar de Currais Novos, 180 km da capital Natal. Com seus 40 mil habitantes, a cidade conta atualmente com pelo menos cinco pólos de instituições de EAD, beneficiando milhares de alunos, nas mais diversas áreas, tornando realidade algo que seria impensável há alguns anos. Um exemplo é o pólo da UNIP (Universidade Paulista), só nele são 13 opções de graduação e 20 de pós. O diretor do Pólo Max Rosan, explica que o perfil dos alunos, na sua maioria, são pessoas que já possuem uma atividade profissional definida, trabalham durante o dia, e estão em busca de outras capacitações. “Nós temos aqui profissionais de todas as áreas e estudantes de várias cidades potiguares e da Paraíba”, explica. E não são só as instituições privadas que descobriram o EAD, como forma de inclusão educacional. Genilda Silva, é coordenadora do Pólo Presencial UAB (Universidade Aberta do Brasil), criada pelo Ministério da Educação. Segunda ela, a UAB chegou na cidade em 2007, já formou a primeira turma na graduação em Tecnologia em Gestão Ambiental, e também aguarda o início de uma pós nos próximos meses, em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido, tudo gratuito. “Hoje só não estuda quem não quer. O EAD provocou uma abertura muito grande em relação ao aprendizado, apesar de ser a distância, nós temos interação com alunos de outros estados, é excelente”, Comemora a professora, que espera com expectativa a chegada do mestrado, no próximo ano. Já o Pólo local da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que conta com três cursos presenciais, oferece cinco a distância. A opção chegou em 2005, com expectativa de ter o número ampliado. A tutora do curso de química, Thaise Ferreira, explica que a estrutura pedagógica e física é de primeiro mundo, mas alerta para o número elevado de desistência. “As pessoas tem a falsa ilusão, porque é a distância é fácil fazer seus próprios horários de estudo, mas se enganam, é até mais difícil, requer muita persistência, se o aluno se isolar, acaba se desestimulando, por isso montamos grupos de estudos, para que eles possam compartilhar suas dificuldades e aprendizado, e vem dando muito certo”, disse. Um desses grupos formado pelas alunas Vanicléia de Lima, Xeila Sueide e Juciele Nascimento, reflete bem o que a tutora falou, e revela outra característica: o preconceito. Vanicleia diz que quando informou que tinha passado no vestibular de Química a distância, ouviu piadinhas da própria família: “sofri sim, mas é bom dizer que pode até ser fácil de entrar no curso, mas é difícil de sair’, disse a aluna que cursa o 3º período de química. Já Xeila, também aluna de química, revela outro ponto: “dizem que é pra pessoas que não tem tempo, puro engano, se você não tiver tempo para estudar e pesquisar você não consegue pagar a disciplina, e digo mais, a distância a gente aprende mais, no presencial muitas vezes os alunos se acomodam com o professor na sala à sua disposição, aqui não, tem que estudar se não, não consegue cumprir a grade curricular”, revela. A falta de tempo foi a razão de Juciele, que cursa o 7º período de física. Ela quer ser professora: “Nos meus anos de escola nunca tive um professor realmente bom de física, a carência é muito grande, por isso optei por esse curso”, diz. Outra instituição que investiu no Ensino a Distância é a Universidade Estacio de Sá. Seu portfólio inclui 15 cursos de graduação, 10 de pós-graduação e mais de 250 cursos de extensão, destaca Roberto Paes, diretor de Produção de Conteúdo EAD da Estácio.” Estudar na modalidade EAD exige dedicação, disciplina e concentração. Não há fórmulas mágicas, e sim a vontade de estudar. Quem tem esses atributos será um bom aluno, seja presencial, seja a distância”, revela. E se existe um eventual preconceito na entrada na Universidade, para o mercado de trabalho, a formação via EAD não faz a menor diferença, muito pelo contrário, em alguns casos é apontado como um diferencial. “O diploma de curso superior não apresenta qualquer distinção em relação à modalidade de ensino-aprendizagem; em outras palavras, o diploma do curso é igual, seja na modalidade presencial, seja na modalidade EAD. Muitas empresas consideram vantajoso ter um colaborador graduado na modalidade EAD pelo fato de tal profissional estar habituado a usar ambientes de aprendizagem, a usar ferramentas de comunicação online, a usar plataformas etc. De fato, qualquer empresa de grande porte já utiliza, seja por necessidade logística, estratégica ou operacional, sistemas informatizados para execução de rotinas e procedimentos”, explica Roberto. A nova tendência está tão concretizada, que até em alguns cursos presenciais, já foi autorizado, que cerca de 25% das disciplinas sejam a aplicadas a distância. “Acredito que é um caminho sem volta”, diz a pedagoga Rita Saldanha. Num país carente de cérebros como Brasil, o EAD mostra-se como uma alternativa original para suprir a histórica lacuna de profissionais qualificados, principalmente nas áreas de ciência e tecnologia. Dificuldades demosntrada na pesquisa anual de escassez de talentos, da empresa de soluções em mão de obra ManpowerGroup. De acordo com a avaliação cargos técnicos operacionais são os que têm mais escassez de talentos no mercado de trabalho brasileiro atualmente. Dos países que compõe o BRIC (Brasil, Rússia, índia e China), grupo das nações que maiores oportunidades de atingirem o desenvolvimento absoluto, o Brasil é a que tem menos graduados em nível superior. E a história contemporânea mostra que sem sapiência e inteligência não existe condições para um crescimento sustentável a médio ou longo prazo. O EAD vem justamente para preencher este espaço em aberto, democratizando o acesso às boas universidades até os mais distantes rincões do país. O que se deve fazer é se despir dos preconceitos e encarar o ensino a distância como um método eficaz e moderno para projetar o Brasil definitivamente no Primeiro Mundo. |
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Ensino a distância: A educação rompendo fronteiras
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